terça-feira, 16 de março de 2010

Não há stop para a precariedade

A questão deixada por Sam the Kid ao jornalista do Público, "O Snake era negro, rapper, de Chelas. Cria-se um estereótipo. Se fosse branco e usasse gravata, teriam disparado?", acerta no ponto fulcral que se prende com as relações precárias e estereótipadas que muitos jovens dos subúrbios, e não só, atravessam.

A marginalização decorrente do estrato social, económico, cultural e, nos dias que correm, cada vez mais, laboral, é um espelho das próprias relações humanas empurradas por uma precariedade que conduz à desconfiança, ao olhar o outro com medo e suspeita, com uma profunda crença de que existém dois tipos de pessoas. As que não representam qualquer perigo social - que têm empregos, usam gravata, batôn e sapatos engraxados - e todos os outros. Estes outros são cada vez mais jovens e graúdos, homens e mulheres que em comum têm a precariedade das suas vidas, das suas relações laborais, da falta de Direitos. Contudo, são também estes "outros" que nos servem nos supermercados, que nos atendem quando temos dúvidas com o tarifário do telemóvel ou que que nos resolvem problemas nas repartições públicas. É também a estes "outros" que direitos básicos e fundamentais - como o Direito a um emprego digno e não precário, a uma segurança social eficaz, que permita que as pessoas possam recuperar da doença sem que isso implique faltar algo, por mais básico que seja, em casa - são negados.

São esses "outros" que vivem nos centros das cidades, nos meios rurais, nos subúrbios. São esses "outros" que trabalham para nós e a quem continuamos a recusar Direitos. Até quando?
André Pires

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