sexta-feira, 16 de abril de 2010

Acção Contra Call Center em simultâneo nos Mayday Lisboa, Porto e Coimbra



Bom dia, fala a Ana... Bom dia, fala o João... Bom dia, fala o Pedro... Bom dia, fala a Susana... António, Sara, Miguel, Zé, Victor, Marta...

Os Call-Centers estão aí para servir... ou melhor, estão aí para se servir. Para que os patrões das grandes empresas se possam servir das vidas e das pessoas que exploram sob a precariedade mais repressiva. Portugal Telecom, TMN, Vodafone, Optimus, Banco Totta, BPI, BPN, SAPO, Continente, Pingo Doce... mas também no Estado, na CGD, na DGCI, na Segurança Social... só para lembrarmos alguns dos mais conhecidos.

Os seus chefes ou patrões não servem ninguém senão a si próprios. Servem-se do roubo das vidas e das expectativas de uma geração para poder contar todos os segundos de chamadas telefónicas em euros, sempre mais euros. Os capatazes dentro dos Call-Center esperam um dia, quando crescidos, ser grandes, no meio de precários, afinal, eles também são precários... o isolamento e a competição entre pares tem destas coisas, volta pessoas umas contras outras.

Mas os mesmos servem-se sempre. Servem-se da impunidade com que gozam do esforço da maioria. Servem-se da influência e da corrupção que lhes dá ligações ao poder. Servem-se de quase todos, num jogo sempre viciado à partida.

Mas desta vez, demos a volta às regras. Usámos os meios que eles criaram na exploração para passar uma mensagem que vale por todos e por todas. Demos a volta à precariedade falando com quem tem de ser ouvido para lá da máquina, dos segundos, dos euros. Vamos dar a volta à precariedade porque queremos juntar num só grito todas as vozes presas nos telefones dos Call-Centers. No 1º de Mario juntamo-nos num grito de Mayday. Somos muitos mais!

Mayday debate precariedade em Setúbal

Hoje realiza-se em Setúbal um debate e concerto com o tema "O Precariado Rebela-se!" organizado pela associação Primafolia e que conta com a participação do MayDay.

O debate será às 21h30 na Academia Problemática e Obscura (Rua deputado Henrique Cardoso nº34, Setúbal - ver mapa), e contará com Projecção de videos de acções do Mayday e será seguido da actuação do grupo de intervenção Pedro e Diana (vê o myspace).

segunda-feira, 12 de abril de 2010

8ª Assembleia MayDay Lisboa

Após um fim de semana de discussão intensa, com o debate A precariedade tem muitas caras. Como nos organizamos? e o encontro no Talude com a AMRT, o MayDay Lisboa parte agora com mais reflexão criada, para a sua 8ª assembleia:

4ª feira :: 14 de Abril :: às 20h45 :: no SPGL
Rua Fialho d'Almeida, nº 3, Metro: São Sebastião


Junta-te a este combate!

Movimentos de Precários e mais de 50 personalidades lançam carta aberta à fundação Serralves

Os movimentos de precários FERVE - Fartos d'Estes Recibos Verdes - e Precári@s Inflexiveis, juntamente com mais de 50 personalidades ligadas ao mundo das artes, da cultura e do sindicalismo lançaram hoje, em comunicado, uma carta aberta  em solidariedade com os trabalhadores da Fundação Serralves ilegalmente despedidos.
Foram 18 recepcionistas que foram hoje despedidos, após anos a trabalhar a falsos recibos verdes. Trabalhores estes que foram afastados pela Fundação de Serralves, por não terem aceitado constituírem-se como empresa para continuarem a trabalhar.


Para ler a carta divulgada e conhecer os seus subscritores, clica em Ler Mais.

Mayday Lisboa esteve com as pessoas do bairro do Talude

Este Domingo o Mayday esteve presente no bairro do Talude (Unhos, Loures), numa tentativa de aproximação a uma realidade que todos sabem mas que poucos conhecem.

O nosso encontro iniciou-se com uma visita guiada pelo bairro, onde as crianças que nos serviram de guias, nos mostraram o seu espaço e o seu mundo. Entre casas de tijolo, música nas janelas, roupa estendida e muitas hortas, foram-nos reveladas muitas histórias de vidas difíceis, de casas demolidas e condições diminutas de sobrevivência, de famílias que sofrem diariamente com a precariedade em todos os níveis da sua vida.
Após a visita pelo bairro, fomos conhecer a Associação de Melhoramentos e Recreativo do Talude, onde num clima familiar, super acolhedor e com muitos sorrisos nos foi mostrado o espectacular trabalho que a associação tem feito junto dos moradores do bairro. Tal como nos tinha sido prometido, assistimos a um espectáculo de dança e comemos uma magnífica Cachupa de peixe!

A precariedade tem muitas caras. Como nos organizamos?

No passado sábado, dia 10 de Abril, realizou-se no CES-Lisboa em Picoas Plaza, um importante debate sobre a multiplicidade de caras que a precariedade tem na sociedade actual. Foi um debate que permitiu verificar a capacidade de mutação da precariedade, ajustando-se aos tempos e aos diferentes sectores da sociedade, tratando-se dum verdadeiro camaleão, que se adapta e instala conforme os cenários e condições, tendo servido para nos alertar para a nossa organização de forma a combate-la eficazmente. Este debate sublinhou, também, a urgência de um contra-ataque que precisa da solidariedade de todos os trabalhadores e trabalhadoras, porque a precariedade é um plano global, embora não sejamos todos afectados com a mesma intensidade.

O debate, com muitas caras, foi dividido em três partes:

Jantar popular no Gaia com o Mayday Lx 2010

Na passada 5ª feira, dia 8 de Abril, o May Day participou no jantar popular do Gaia, no Centro Social da Mouraria. Foi um jantar vegano e livre de OGM’s, de forma a dar força para o MayDay 2010, e que permitiu uma confraternização dos vários envolvidos, troca e partilha de experiências e conhecimentos, participando-se também na confecção do jantar e organização do espaço, tendo havido ainda uma sessão teatral que teve início após o fim do jantar. Houve também um cartaz afixado onde se podia escrever sobre a precariedade e formas de a combater.

Após o jantar foram projectados alguns filmes de MayDay’s dos anos anteriores, permitindo assim aos presentes ter uma ideia da importância do movimento MayDay, e da necessidade da acumulação de forças para que o combate à precariedade e exploração sejam uma luta conjunta de todos os dias.

domingo, 11 de abril de 2010

Lá como cá: a luta dos precários em França


Num total de 3.000 milhões de desempregados em 2009, e de 4 milhões previstos para 2010, 850.000 chegaram ao fim dos subsídios em 2009 e o mesmo acontecerá a mais 1.000.000 em 2010.

Em preparação, uma grande Marcha de 900 kms, entre Marselha e Paris, de 25 de Maio a 14 de Julho de 2010. À chegada, será apresentada às autoridades uma série de exigências mínimas de protecção para os que não aceitam ser «os esquecidos da mundialização económica».

«Os governantes não hesitam em citar alegremente a Convenção universal de direitos do homem para aparecer como “ardentes defensores dos direitos humanos e democráticos”. (…) É inaceitável que a 4ª potência económica mundial irradie os desempregados que deixam de ter direito a subsídio (…), ao mesmo tempo que dá de graça aos banqueiros, principais responsáveis pela banca rota e arquitectos da crise permanente, várias dezenas de milhões».

Todos diferentes, todos iguais - por essa Europa fora.
Joana Lopes, Vias de Facto

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O MayDay Lisboa está nas Ruas!



Festa MayDay PORTO


O MayDay Porto está na Rua e organiza uma festa, segue-se a divulgação:


QUANDO: Sábado, 10 de Abril
A QUE HORAS
: 22h00
ONDE
: Fábrica da Rua da Alegria (Rua da Alegria, nº341). Porto



O QUE VAI ACONTECER:
Haverá teatro, música, filmes e muita animação com a participação (entre outros) de:
- Erva Daninha
- DJ Ruba Linho
- DJ's Golpe de Estado (RUC)


PORQUÊ: o MayDay está aí chegar! No dia 1 de Maio, o precariado sai à rua e faz ouvir a força da sua voz!

QUEM É O PRECARIADO?:

- somos 2 milhões de pessoas que não têm um vínculo estáel de trabalho;
- somos 900 mil falsos recibos verdes;
- somos 400 mil pessoas contratadas através de empresas de trabalho temporário,
- somos bolseiros/as de investigação científica;
- somos 600 mil pessoas que estamos desempregados/as;
- somos todos/as os/as trabalhadores que estão solidários/as com esta luta pela dignidade laboral e pelo direito ao trabalho com direitos
- O PRECARIADO SOMOS TODOS NÓS!.



NO SÁBADO, DIA 10, APARECE NA FÁBRICA E TRAZ UM/A AMIGO/A TAMBÉM!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Encontro/debate com a AMRTalude

A precariedade concentra-se de maneiras diferentes e em diferentes sectores da sociedade, as pessoas que vivem nos bairros sociais representam um dos sectores mais massacrados por esta chantagem, para além de estarem submetidas às mais diversas precariedades laborais estão geograficamente excluídas do sistema social e económico.

O MayDay Lisboa quer, também, dar voz aos precários que vivem nestes bairros e por isso aceita o desafio da Associação de Melhoramentos e Recreativo do Talude de participar num encontro que terá diversas actividades (dança, almoço, debate,...) e que culminará com um debate sobre as múltiplas formas de precariedade e o modo como nos podemos organizar para as combater. Será certamente um momento de partilha de experiências importante para todos.

Dia 11 de Abril, Domingo, às 11h
Ponto de encontro: 11h na paragem de BUS (correios no Catujal)
Nota: 
Quem chegar atrasado, deve dirigir-se para a sede da AMRT: Estrada militar do Talude, nº 62




Como chegar lá:
  • PARTIDAS DO CAMPO GRANDE (saída oposta ao Estádio de Alvalade) - Apanhar o Bus da Rodoviária n.º 311 ( pedir para sair nos Correios no Catujal)  
  • PARTIDAS DA GARE DO ORIENTE (saída B para o exterior) - Apanhar o BUS da Rodoviária n.º 305 ou 309 (pedir para sair no Campo da Bola ou Correios no Catujal)
  • AVISO: o ideal é adquirirem pré-comprados pois comprar no Bus é muito caro.
  • COORDENADAS GPS: 38º 48' 34.71" N e 9º 06' 45.33" W


Debate :: A precariedade tem muitas caras. Como nos organizamos?

A precariedade é uma só,  tem muitas caras, há muito que o dizemos, porque sabemos que ela é um plano global que afecta os mais diversos sectores da sociedade, dos professores aos trabalhadores de call center, dos operadores de caixa de super-mercado aos funcionários públicos, dos trabalhadores/as sexuais aos intermitentes do espectáculo e do audiovisual, entre outros. No entanto, sabemos que não nos afecta a todos com a mesma intensidade, que existem sectores onde a chantagem da precariedade é mais brutal, ganhando força com a discriminação e o racismo, a desigualdade e o preconceito.

Para a resposta, para o contra-ataque à precariedade, é preciso a solidariedade entre todos os trabalhadores numa luta que sabemos ser comum, e por isso chamamos toda a gente para um debate que é urgente e que pretende ser um ponto de encontro, onde se acumulam forças e se articulam esforços para pensar e organizar alternativas.

Dá a volta à Precariedade!
No dia 10 de Abril, às 15h aparece e traz um amigo!
CES - Lisboa, Picoas Plaza
Rua do Viriato, nº13 (Metro: Picoas)


segunda-feira, 5 de abril de 2010

Jantar popular e conversa MayDay Lisboa no GAIA


O MayDay Lisboa está na rua para dar voz aos precários, fazendo um percurso de acumulação de forças que culmina numa parada no 1º de Maio.

O que é o Jantar Popular?
- Um Jantar comunitário vegano e LIVRE DE OGMs que se realiza todas as Quintas-feiras no Grupo Desportivo da Mouraria
- Uma iniciativa inteiramente auto-gerida por voluntários do Centro Social do Jantar. Para colaborar, cozinhar, montar a sala basta aparecer a uma Quinta-feira a partir das 16h30.
- Um projecto autónomo e auto-sustentável. As receitas do Jantar Popular representam o fundo de maneio do Centro Social do GAIA que mantém assim a sua autonomia.
- Um jantar onde ninguém fica sem comer por não ter moedas e onde quem ajuda não paga. O preço normal são 3 euros.
- Um exemplo de consumo responsável, com ingredientes que respeitam o ambiente, a economia local e os animais.
- Uma oportunidade para criar redes, trocar conhecimentos

Desta vez o MayDay Lisboa janta (3€/ref) no Centro Social da Mouraria - GAIA


Dia 8 de Abril
5ª feira, às 20h30,
Travessa da Nazaré, 21, 2º (ver mapa)

Passagem de Filmes
Conversa: Dá a volta à precariedade!

Aparece e traz um amigo também!

domingo, 4 de abril de 2010

Luta dos e das professores/as das Actividades de Enriquecimento Curricular divulgada no estrangeiro


A mobilização dos profissionais das AECs já é notícia lá fora. A Radio France Internationale (RFI) esteve em Portugal para retratar a realidade dos recibos verdes e do aumento da precariedade e não ignorou a situação dos professores das AECs. A reportagem está disponível aqui (carregando no ícone com o desenho de auscultadores, à direita em cima).
A reportagem começa com o som da concentração do passado dia 11, dando voz a uma das professoras que organizou esta mobilização e que esteve presente na acção. O trabalho da rádio francesa dá ainda conta das várias consequências do abuso do recurso aos recibos verdes em Portugal, com a participação de várias pessoas com vidas afectadas por esta forma de precariedade e membros de movimentos de trabalhadores precários, como a Plataforma dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual e dos Precários Inflexíveis.
A ArteTV, um canal de televisão alemão e francês (presente na televisão por cabo nacional), também veio a Portugal para uma reportagem sobre a precariedade laboral. O ritmo brutal a que cresce a precariedade por cá parece não parar de espantar a Europa.
Tal como no caso da reportagem da Radio France Internationale, a ArteTV deu destaque à situação concreta dos profissionais das AECs, recolhendo o depoimento duma das professoras que esteve na organização do protesto de dia 11: Margarida Barata descreve a sua situação e como os recibos verdes e a fraca retribuição lhe afectam a vida e o desenvolvimento das próprias actividades. Apesar da reportagem ser falada em língua alemã, partilhamo-la aqui:



Professores das AECS da grandes Lisboa

A precariedade e a administração pública - Miguel Madeira


Sobretudo em períodos de aumento de desemprego, é frequente aparecer a conversa d'“os funcionários públicos que têm emprego seguro”. Isso será verdade? 
Bem, isso depende muito da definição de “funcionário público” - realmente, a expressão, até há pouco tempo, aplicava-se formalmente quase apenas aos trabalhadores com “nomeação definitiva”, sendo os outros, no máximo, “agentes da Administração Pública”; assim, claro que um “funcionário público” não podia ser despedido (salvo processo disciplinar ou coisa semelhante) - ter vínculo definitivo faz (ou fazia) parte da definição de “funcionário público”. 
Mas se usarmos “funcionário público” no sentido de “trabalhadores da Administração Pública”, claro que estão sujeitos à precariedade e podem perfeitamente perder o emprego (por vezes até por razões como alguém não gostar da roupa que usam quando não estão de serviço).
Com o novo Código do Trabalho, os prazos podem ser diferentes, mas até há meia dúzia de anos era normal  trabalhadores da AP (nomeadamente os das carreiras pior pagas, como telefonistas e auxiliares administrativos) terem este percurso profissional: 
- Contrato a prazo de seis meses renovados durante dois anos
- Terminado o contrato, passava a receber “subsidio de desemprego”, ficando a trabalhar na instituição ao abrigo do “Programa Ocupacional - Subsidiados”, um programa do IEFP em que desempregados recebem um subsidio adicional para trabalharem em instituições sem fins lucrativos (como é o caso das instituições do Estado) 
- Após algum tempo, acaba o subsídio de desemprego; não há problema - passam para o “Programa Ocupacional - Carenciados”, outro programa do IEFP, este para pessoas de baixos rendimentos, em que trabalham para uma instituição sem fins lucrativos recebendo o salário mínimo nacional
- Terminado o prazo do Programa Ocupacional, já se passaram alguns anos e portanto já se podia voltar a fazer um contrato de trabalho a prazo, reiniciando-se o ciclo 
Como digo, isto era o que se passava há uns anos atrás, mas não tenho razões para pensar que seja diferente actualmente (tirando o facto dos contratos a prazo agora poderem prologar-se por mais de 2 anos).
Miguel Madeira, Vias de Facto

Precariedade e novas resistências operárias - José Nuno Matos


A grande transformação
O fenómeno vulgarmente designado por Maio de 68 – um termo redutor que diminui todo um conjunto de manifestações de resistência política aos acontecimentos em curso na sociedade francesa – resultou essencialmente da recusa do modo de vida alicerçado no trabalho abstracto. Aos poucos, tornaram-se perceptíveis as contrariedades de uma sociedade baseada na produção e no consumo em massa. O sistema laboral fordista – inicialmente encarado como um dos pilares da estabilidade de uma população dilacerada por duas guerras mundiais – reduzia a capacidade de acção dos trabalhadores à repetição estandardizada de duas ou três tarefas. A regularidade e a estabilidade acabaram por dar lugar à fadiga e à depressão, e, logo, à diminuição dos níveis de produtividade. A revolta das fábricas e das universidades veio apenas tornar manifesto o que há muito estava latente.
Estes factores, consubstanciados pelos efeitos da crise petrolífera, levaram a uma reformulação das bases infraestruturais da economia, nomeadamente dos princípios orientadores dos mercados de trabalho. Conceitos como "flexibilidade", "racionalização de recursos humanos", "adaptação" e "competitividade" passaram a constituir parte do jargão economicista, anunciando uma nova ordem laboral inteiramente determinada pelos níveis de oferta e da procura de emprego. A adequação entre estes dois factores traduziu-se na criação de vínculos contratuais bastante frágeis — o contrato a prazo, o trabalho a tempo parcial, o trabalho temporário ou recibo-verde — de modo a facilitar tanto a contratação, como o despedimento.
A argumentação teórica em torno destas medidas esconde, no entanto, o acentuar da guerra social do capital contra as pessoas. Num contexto em que as empresas são dotadas de um poder de (des)localização quase ilimitado, seleccionando países e regiões de acordo com os respectivos níveis de submissão aos seus interesses, e em que a produção resulta não tanto da quantidade de trabalhadores, mas sim da sua qualidade, o acesso a bens e serviços de necessidade básica continua a depender da posse de um emprego. Como afirma Hannah Arendt, "O que se nos depara, portanto, é a possibilidade de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho" (Arendt, 2001: 16). Assim, a ausência ou intermitência de uma fonte de rendimento impedem a mínima previsão de futuro pessoal, minam a existência, precarizam a vida.
No imaginário social dominante, fugir a este sentimento implica alinhar com os intentos do patronato e aceitar as regras de jogo por eles definidas — salários baixos, horas extraordinárias não pagas, ausência de protecção social — impondo nas empresas um ambiente de “paz social podre”: o boato, o esporádico erro propositado ou a danificação escondida do material são muitas vezes as únicas formas de resistência, sempre realizadas de uma forma anónima e secreta. Na opinião de Javier Toret e Nicólas, está em marcha um fenómeno generalizado de devir migrante do trabalho, isto é, a aproximação do paradigma laboral fordista ao paradigma do trabalho migrante: “As condições laborais de que sofrem os imigrantes (informalidade na contratação, vulnerabilidade, vínculo intenso entre território e emprego a realizar, desprotecção sindical, temporalidade, total disponibilidade,...) vão estendendo-se progressivamente ao resto dos trabalhadores” (Toret, Sguiglia, 2006: 106).
A estratégia público-empresarial1 (fruto de uma incessante invasão de espaços sociais – tanto materiais, como simbólicos –, facilitada pelo abandono do estado e dos tradicionais actores políticos da modernidade) consiste, num primeiro momento, na criação de um estado de excepção laboral que ultrapassa os regimes legais, por si só já restritivos (o recurso em massa aos “falsos recibos verdes” e o não pagamento de horas extraordinárias, por exemplo). Simultaneamente, desenvolvem-se acções de pressão, lobbying e ameaça sobre as autoridades, apontando a “rigidez das relações laborais” como um factor desincentivador do investimento e promotor da deslocalização de unidades produtivas e do desemprego. Satisfeitas algumas das reivindicações2, as empresas podem reiniciar este processo, criando um novo estado de excepção laboral e exigindo novas reformas. Desenvolve-se assim um cíclo de exploração em que a vida das pessoas se vê completamente nua de qualquer protecção, pois o que é de direito e o que é de facto se tornou praticamente indistinguível (Agamben, 1998). 

sábado, 3 de abril de 2010

Repôr a normalidade - Ricardo Noronha


O que aconteceu hoje às portas do Hotel Tivoli é um exemplo do que aí vem. Os e as trabalhadores/as da cadeia de hotéis exigiram aumentos salariais iguais para todos (mais 20€ ao mês), de maneira a unificar todas as categorias numa só luta. A administração respondeu com a contratação de trabalhadores a prazo para substituir os grevistas (que são efectivos) e parece que até lhes arranjou um sítio onde dormir nas suas instalações, para evitar contactos indesejáveis - sabe lá o que poderia acontecer se fossem forçados a confrontar-se com aqueles cuja greve estão a furar?
Depois aconteceu o costume. Seguranças musculados impediram o piquete de greve de bloquear os acessos ao edifício. Chamada pela entidade patronal, a polícia acorreu com a costumeira solicitude  intimidando os grevistas e «repondo a normalidade». Ou seja, a decisão ilegal de substituir trabalhadores em greve por outros que em breve serão dispensados foi, na prática, assegurada por agentes da PSP. Parece que já estão na linha de montagem mais dois mil. 
Como as coisas estão, não sei se os empresários do ramo da hotelaria não deveriam reivindicar mais uns quantos para seu uso exclusivo. Não faltarão oportunidades para lhes dar bom uso. Em tempos de crise, haverá sempre uma normalidade qualquer a repor algures -  certamente não faltarão trabalhadores em greve decididos a não pagar o custo da crise, desempregados disponíveis para tudo e patrões conscientes da sua impunidade. Até poderão prestar esse serviço a outros sectores patronais, incapazes de assegurar tão sólida garantia para policiar os seus actos ilícitos, dissuadir os grevistas mais «irresponsáveis» e os ânimos mais «exaltados». 
Sim, nos tempos que correm, o patronato precisa de toda a polícia disponível para pôr em prática esse crime organizado a que vimos chamando «precariedade». Ainda chegará o dia em que a PSP se verá forçada a prender inspectores do trabalho para «repor a normalidade».
Ricardo Noronha, Vias de Facto

Uma reivindicação razoável - Miguel Serras Pereira


Será de mais - será sequer assim tanto - o "tudo" do "Queremos Tudo" do combate operário que nos propõem aqui, por esse caminho antecipando da melhor maneira as jornadas do próximo May Day ?
A resposta democrática à precariedade, à expropriação e à subordinação hierárquica do trabalho e do conjunto da actividade económica parece, em todo o caso, bastante simples, e pode traduzir-se numa reivindicação razoável, que não pressupõe descobertas científicas novas no campo da economia, da sociedade ou da história, não depende de soluções tecnológicas milagrosas, não implica a construção de direcções políticas qualificadas, nem a assunção de competências extraordinárias por agentes privilegiados e profissionais do governo dos outros.
Bastaria que, em contrapartida de um determinado montante de trabalho - igualitariamente estabelecido  pelo poder democrático igualitariamente exercido pelos cidadãos -, fosse garantido a todos um rendimento igualitário e condições de igualdade perante o mercado. Precise-se somente que esta política de igualização dos rendimentos não poderia deixar de ser acompanhada da democratização das condições de exercício da actividade económica e da divisão (política) do trabalho em vigor - consequência óbvia da transformação democrática da actual divisão hierárquica do trabalho político.
Tal seria o resultado da adopção de uma proposta do tipo da reiteradamente apresentada nesta matéria por Castoriadis, em termos que poderiam unir numa mesma plataforma tanto os precários rebeldes como os restantes trabalhadores cada vez mais precarizados. E poderia acrescentar-se que essa plataforma seria também uma via de saída para a crise global que a ordem estabelecida não para de reproduzir e agravar a todos os níveis e à escala planetária.
Embora tentar?

Fundação de Serralves despede trabalhadores com falsos recibos verdes



A Fundação de Serralves tem um horário de funcionamento.
A Fundação de Serralves tem uma recepção, uma bilheteira, um bengaleiro.
A Fundação de Serralves tem recepcionistas que asseguram estes serviços, permanentes e imprescindíveis.
A Fundação de Serralves tem recepcionistas que asseguram estas funções há mais de cinco anos.
A Fundação de Serralves saberá que deveria ter celebrado contratos de trabalho com estes/as trabalhadores/as, visto tratarem-se de pessoas que utilizam material disponibilizado pela entidade empregadora, visto utilizarem uma farda da instituição, visto estarem inseridos numa equipa, visto terem chefias, visto estarem na dependência económica da entidade que as contrata: tudo critérios que permitem aferir a existência de um contrato de trabalho e não de trabalho independente.
A Fundação de Serralves sabe que estas pessoas são falsos recibos verdes.
Mayday Porto

quinta-feira, 1 de abril de 2010

7ª Assembleia MayDay Lisboa

MayDay MayDay!!!

Após a acção de invasão do Centro Comercial Colombo (vê o vídeo aqui) , uma das grandes catedrais da precariedade, o MayDay Lisboa vai a caminho da sua 7ª assembleia!

Dá a volta à precariedade!

7ª Assembleia MayDay Lisboa:

4ª feira, 7 de Abril, às 21h na SOLIM

Rua da Madalena, nº8 2ºandar

Aparece e traz um amigo também!